quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sem Filtro

Sem Filtro. Sim, hoje em dia as pessoas estão definitivamente, "sem filtro".
Isso porque já não existe algo importantíssimo em qualquer cultura, em qualquer tempo e espaço: a noção de limite próprio, pessoal. Tudo no mundo social atingiu a categoria de "limitless", e tudo se tornou vulgar e banal. Os próprios momentos cotidianos, que sempre estiveram bem guardados dentro da intimidade privada de cada um, se tornaram momentos adulterados pelo poder de um compartilhamento em massa, na nova modalidade de intimidade coletiva a que nos submetemos.
O simples gesto usual de um filho sorrindo já não tem a mesma graça se não for replicado diversas vezes em notória exposição midiática, que mais se parece com uma propaganda de pílulas da felicidade extrema. A dor se camufla nas esquinas das redes sociais, desaparecendo em meio à tanto carinho gratuito e fortuito. A vaidade se solidifica e gera agradáveis desdobramentos de gentilezas trocadas, afagos não tão genuínos, mas sempre muito bem vindos e, até, indispensáveis para a sobrevivência social. 
Não sou contra as redes sociais, nem a qualquer forma de contato social, seja ela virtual ou física. Sou contra a exposição exagerada, sem nenhum limite ou pudor. Como Dona de Bordel incentivava minhas meninas a tirarem a roupa, mas jamais as incentivei a tirá-la de uma vez só. A roupa deveria ser tirada aos poucos, na cadência de uma bossa própria, com ritmo e ginga.  E o que eu vejo que acontece hoje em dia, em pleno século 21 é a necessidade em mostra-se por inteiro e em todos os ângulos possíveis. 
O compartilhamento de fotos hoje em dia, por exemplo, não é mais um simples ato de mostrar algo divertido ou bonito, faz parte de um ritual de "experiências coletivas", onde o mundo deve ser visto com os olhos de todos. Assim como o prato deve ser degustado e o cheiro deve ser sentido. Tudo deve ser "vivido à centenas" e, não mais à dois como deveria ser.
Uma pena encontrar almas perdidas à frente de uma máquina, ansiando viver uma vida que não é mais só delas, é de "todo mundo".
Fui! (Participar de uma orgia virtual!!! E sem filtro...)



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